"Minha mãezinha preta, 'Mãe Dite'". Assim começa a declaração de amor e gratidão publicada no Facebook pelo nosso conterrâneo Renato Kleber Prates Dias para uma das machacalienses mais ilustres: Edite Senhora de Jesus. Um belo e comovente relato de vida, motivado pela alegria de tê-la imunizada contra a Covid-19, que eu não resisti e acabei por compartilhar.
No texto, Renato não faz referência à idade de "Dite Preta", mas certamente Deus há de conceder a ela, com essa dose de esperança que chegou pela vacina, a dádiva de vida longa, tanto quanto à da mãe dela.
Os pais de Dite, segundo Renato, eram escravos e foram alforriados pela Lei Áurea nos idos de 1888. E Dite nunca se casou para cuidar da mãe dela.
"Mãe virgem, católica fervorosa, carismática, a quem tive o privilégio de ministrar o Batismo com o Espírito Santo, nunca namorou, nunca conheceu um homem e nunca se casou. Deus a separou para si e lhe confiou a missão de cuidar de sua mãe, Maria Senhora de Jesus, a quem carinhosamente chamávamos de "Siu", e que faleceu aos 106 anos segundo constava no batistério, pois não tinha certidão de nascimento. De acordo com Dite, Siu devia ter 115 anos quando faleceu", escreveu Renato.
"Com a conquista da Lei Áurea, nos idos anos de 1888, que livrou os pais de Siu da escravidão, meu avô paterno Antônio Dias dos Santos (Pai Tono Dias como nós, os netos o chamávamos) ofereceu-lhes trabalho em Machacalis, para onde partiram Siu, a mãe, ainda jovem, e Dite, a filha, de apenas 8 anos. Pretas, mulheres fortes, descendentes de escravos, sendo Siu beneficiada pela alforria, ainda quando criança, porque, a conquista da liberdade não foi da noite para o dia, como nada na vida é", relatou.
"Partiram do sertão da Bahia, lá das bandas do Irecê, para a pequena Machacalis, próspero povoado, outrora chamado de Nortinho, São Sebastião do Norte, plantado junto aos rios Norte e Alcobaça, no florescente Vale do Mucuri, nordeste de Minas Gerais, bem longe da seca", continua Renato.
Ele ainda conta que seu relato foi motivado pela gratidão a Deus, após ler uma postagem do irmão dele, o Marcelo, e que foi repassada pela irmã Isadora, de que a "Mãe Dite Preta" dele havia recebido a primeira dose da vacina contra a Covid-19.
Para Renato, alegria em dose tripla. Os pais dele também foram imunizados nos últimos dias. "Vacina sim!", defende ele, como todo brasileiro em sã consciência.
GRATIDÃO
Ainda na sua postagem, Renato revela alguns dos motivos de tanto amor e gratidão a Dite Preta, com quem morou por dois anos na fase mais difícil da vida dele.
"Eu tinha entre 10 e 12 anos quando tive meus pulmões perfurados por vermes e quase morri. Mas, Deus não quis porque, como dizia ela (Dite): 'Deus tem planos para a sua vida 'Coquin'. É assim que ela me chama até hoje", conta Renato, que nunca deixa de visitar Dite quando vem a Machacalis.
"Eu tive a sorte de ter três mães: Minha mãe genética, Isa, que aparece na foto com ela, minha mãe Delé (in memorian), com quem morei na adolescência, e a minha mãezinha preta Dite, Edite Senhora de Jesus. Mãe não somente minha, mas de muita gente", escreveu Renato, certamente emocionado.